Uso de telas na infância
- Renata Vieira
- 14 de mai. de 2024
- 3 min de leitura
A primeira infância, compreendida na fase de 0 a 6 anos, é um período crítico de crescimento e maturação. O corpo como um todo e as estruturas cerebrais, em especial, estão em pleno processo de modelação e desenvolvimento. É na interação com o ambiente e com os cuidadores, que as crianças realizam seu potencial na ampliação de habilidades físicas, cognitivas, emocionais e sociais. Interferências e problemas situados nessa fase podem gerar efeitos significativos na plena evolução infantil.
O uso excessivo de telas é um deles e tem sido associado a inúmeros desfechos nocivos de ordem física, cognitiva e comportamental. Entre eles, destacam-se: sedentarismo, obesidade, problemas osteoarticulares, como vícios posturais e dores musculares, baixa motricidade, manifestações oculares como síndrome do olho seco, vista cansada e miopia, problemas auditivos pela exposição a excesso de ruído. A diminuição das horas e da qualidade do sono, sobretudo, quando as telas são usadas antes da hora de dormir, interferem na capacidade de aprendizagem e se relacionam com sonolência diurna e piora do desempenho acadêmico. Há atrasos também na linguagem, porque as crianças dependem da comunicação com outras pessoas para aquisição de vocabulário e desenvolvimento linguístico.
A super estimulação presente nos meios digitais e a obtenção de respostas imediatas interferem, negativamente, na capacidade de atenção e na habilidade de saber esperar, contribuindo para a impulsividade, hiperatividade, baixa tolerância às frustrações, irritabilidade e estresse. O comportamento passivo da criança frente às telas pode também fomentar uma predileção por atividades que exijam menos cognitivamente, debilitando assim a capacidade criativa e crítica dos pequenos. A preguiça, a ansiedade e a frustração são reações que podem surgir diante de atividades que requeiram esforço intelectual, paciência e o protagonismo delas
.
Como o uso excessivo das telas pode prejudicar a saúde mental de crianças e adolescentes?
Todos esses fatores concorrem para dificuldades de interação e adaptação ao meio social. Considerando, sobretudo, as crianças maiores e adolescentes, entre outros efeitos na saúde mental, evidencia-se maior susceptibilidade para desenvolver depressão, ansiedade, baixa autoestima e transtornos da imagem corporal. Este último é motivo de preocupação especial entre as meninas, levando a risco aumentado de distúrbios alimentares como anorexia e bulimia, quando tomam para si padrões de beleza irreais e inatingíveis vendidos pela mídia.
É preciso também grande atenção para os prejuízos psicológicos e as marcas definitivas na imagem pessoal ocasionadas pelo cyberbullying, versão mais moderna do bullying, cujo alcance e efeitos são amplificados por meio dos compartilhamentos sucessivos nas redes sociais. Existem ainda outros riscos associados à exposição de conteúdos sensíveis sexuais e de violência, com graves desdobramentos para a segurança e sofrimento psíquico de crianças e adolescentes, que se traduzem no aumento de autolesões, associados em casos mais extremos à indução e riscos de suicídio; no uso de álcool, cigarro, vaping, maconha, psicoestimulantes, anabolizantes e outras drogas; comportamentos compulsivos levando à adição a jogos e demais entretenimentos digitais, além de sexting, sextorsão e abuso sexual.
Novamente, é preciso sublinhar a necessidade de uma supervisão qualificada de um adulto responsável, junto ao público pediátrico na navegação pelo ambiente digital. Cabe aos responsáveis regular não apenas a quantidade – a da criança e a própria -, mas também cuidar da qualidade do tempo gasto frente às telas, selecionando conteúdos educativos apropriados à faixa etária, controlando a interação com desconhecidos e a navegação por sites perigosos. Uma maneira de manter a segurança online das crianças é usar as ferramentas de controle parental e de filtragem na internet, para selecionar conteúdos que eles sejam capazes de acessar ou mesmo os instrumentos de bloqueio nos navegadores.

Comentarios